Arquivos OFI – Entrevista de Olivier Felix Isselin por Frank Scott na terça-feira, 23 de maio de 2023 para Designer Interviews.
FS: Pode nos contar mais sobre o seu percurso artístico e de design? O que o motivou a tornar-se artista/designer? Sempre quis ser designer?
OFI: Quando era pequeno, o meu passatempo favorito era brincar com Lego: gostava de enfrentar problemas e encontrar soluções.
Passei também muito tempo a fazer planos e tive longas conversas com o meu avô, um empreendedor italiano instalado em França.
A minha relação com a estética sempre foi essencial para mim: sempre vivi em lugares bonitos, o que provavelmente contribuiu fortemente para a minha construção.
Mais tarde, estudei arquitetura em Paris, mas rapidamente percebi que não queria concluir esse percurso. Depois de passar algum tempo com um arquiteto, percebi que essa profissão, conforme praticada, não me convinha: a liberdade de criação era rapidamente limitada, demasiadas restrições administrativas… Era necessário escolher.
Depois disso, dirigi várias galerias de arte contemporânea, fiz curadorias de exposições, criei e assegurei a gestão de vários espaços… A minha relação com os artistas também deixou uma marca importante.
Resumindo, todo o meu percurso foi feito como um homem livre, transformando as minhas paixões em trabalho e vice-versa. O design é a continuação óbvia do meu percurso de vida.
FS: Pode falar-nos mais sobre a sua empresa/estúdio de design?
OFI: Como independente, dirijo o meu próprio estúdio de design. Sou responsável por todas as etapas do processo de conceção, desde a ideia até à realização final.
FS: O que é “design” para si?
OFI: O design, para mim, define-se principalmente pela sua relação com o espaço.
Se ser um artista implica ter uma perceção intensa e pessoal do ambiente e expressá-la livremente através de várias formas, sendo a arte o resultado desse processo, o design distingue-se no sentido de que não se concentra apenas no seu criador. Ele dirige-se principalmente ao utilizador e está, portanto, intimamente ligado à funcionalidade. A técnica, os materiais e a ergonomia são elementos a ter em conta durante a criação. O design representa a resposta a um problema.
No entanto, isso não significa que o designer não seja também um artista. Além de resolver problemas, a criatividade permanece essencial e confere personalidade ao objeto criado.
FS: Que tipo de obras gosta mais de conceber?
OFI: Sempre as do momento: cada projeto que inicio é um novo desafio. Portanto, é sempre muito motivador.
Atualmente, estou bastante envolvido em projetos de spas. Basta percorrer os corredores de feiras especializadas para perceber que há muito a fazer! É surpreendente que, neste domínio do bem-estar, não se preocupe muito com a estética do objeto, sendo que a estética é uma componente essencial do bem-estar.
FS: Qual foi a primeira coisa que concebeu para uma empresa?
OFI: Um logotipo.
FS: Em que aspetos da conceção se concentra mais durante o processo?
OFI: Na fase final do projeto. Se outra ideia me ocorre durante esse período, faço anotações, rabisco um pouco, apenas para não esquecer… Porque durante essa fase, esforço-me por não me dispersar: o trabalho em curso exige toda a minha atenção.
FS: Que emoções sente durante a conceção?
OFI: Excitação, stress, motivação, obsessão.
FS: Que emoções sente quando as suas criações são realizadas?
OFI: Já não me pertencem. Já não controlo. Preciso de passar rapidamente para outra coisa.
FS: O que determina o sucesso de um design?
OFI: Tudo depende do que se entende por sucesso. Por um lado, há o design que se alimenta da tendência, que surge no momento certo, nem muito cedo nem muito tarde. Este produto, em sintonia com a sua época, terá todas as chances de ter um grande sucesso comercial. Depois, há o design muito bom: aquele que não esperamos necessariamente, que transcende a noção de moda. Este marcará época e passará os anos sem perder a sua modernidade.
FS: Quando avalia um design como bom ou mau, que aspetos considera em primeiro lugar?
OFI: Toda a minha sensibilidade está focada numa forma de esteticismo. É algo muito pessoal e muito variável. Se sou naturalmente atraído por designs depurados, o que está em conformidade com a minha criação, também posso não ser insensível a designs mais incomuns que seria incapaz de imaginar! Sou, por exemplo, apaixonado pelo Centro Pompidou em Paris, de Richard Rodgers e Renzo Piano… Posso também mencionar o Museu Guggenheim de Bilbao, projetado por Frank Gehry; foi um verdadeiro choque quando descobri aquele lugar.
Tudo depende do contexto. E, precisamente, o que não gosto é do fora de contexto. Para ser mais claro, posso citar novamente Frank Gehry e o LUMA: esse volume nesse local incomoda-me consideravelmente. Não faz sentido! A horizontalidade que predomina nesta cidade e, mais genericamente, na Camargue, desapareceu! Certamente haveria outra maneira de se destacar. A paisagem é completamente perturbada.
FS: Do seu ponto de vista, quais são as responsabilidades de um designer em relação à sociedade e ao ambiente?
OFI: A relação do designer com a sociedade e, mais geralmente, com o ambiente, está cada vez mais presente.
O que podemos ter certeza é que, perante o desastre ambiental, o design será mais responsável, tanto na escolha dos materiais utilizados quanto no modo de fabricação. Os objetos serão mais duráveis. Enfim, esperemos que sim!
FS: Como acha que o “domínio do design” está a evoluir? Qual é o futuro do design?
OFI: O futuro do design, acabamos de mencionar: será preocupado com o ambiente. Agora, será que estamos a produzir menos e melhor? Não tenho a certeza, mas lá chegaremos. Seremos forçados a isso!
FS: Quando foi a sua última exposição e onde foi? E quando planeia organizar a sua próxima exposição?
OFI: A minha última exposição foi no verão passado. Fui convidado a participar num festival de arte contemporânea no Var. Apresentei uma das minhas séries fotográficas.
Quanto à minha próxima exposição: ainda não sei… Tenho várias pistas, mas ainda não tenho nada para anunciar.
FS: De onde vem a inspiração para o design das suas obras? Como alimenta a sua criatividade? Quais são as suas fontes de inspiração?
OFI: Da minha vida. Tudo pode inspirar-me. Acredito que tenho sempre o olhar atento. Em seguida, anoto ou rabisco nos meus cadernos… Toda a ideia é uma síntese.
FS: Como descreveria o seu estilo de design? O que o levou a explorar mais esse estilo e quais são as principais características do seu estilo? Qual é a sua abordagem do design?
OFI: Tento simplesmente ser eu mesmo, não me renegar. Essa é a única maneira, penso eu, de ter o seu próprio estilo.
FS: Onde mora? Acha que a herança cultural do seu país afeta as suas criações? Quais são as vantagens e desvantagens ao conceber ao viver no seu país?
OFI: Vivo em Agay, um pequeno paraíso na Costa Azul, entre Cannes e Saint-Tropez: natureza, luz e mar… É muito inspirador! Aliás, os meus locais de vida sempre foram muito importantes para mim e, portanto, para o meu trabalho. Viver em França é uma sorte porque, além de um património cultural gigantesco, as paisagens são muito variadas em distâncias relativamente curtas. Vivi em Langres, em Dijon (Borgonha), em Paris, mas também na montanha (Les Arcs – Savoie). Todos esses lugares são mágicos e viram-me crescer. O que nos rodeia e, mais amplamente, a nossa vida é a nossa própria referência. Ou apreciamos, ou rejeitamos, e é isso que alimenta a nossa criatividade.
Quanto a ver vantagens ou desvantagens em viver no seu país: é essencial mover-se para aprender… Viajei e permaneci mais ou menos tempo em muitos países, mas nunca vivi fora de França – até agora! – por isso, estou bastante mal posicionado para esse tipo de avaliação. Para mim, o importante é ser livre e sentir-se bem onde se está.
FS: Como trabalha com as empresas?
OFI: Considero as empresas com as quais trabalho como parceiras. Primeiro, há uma empatia, é muito importante. E sempre com o objetivo de uma colaboração a longo prazo, baseada na troca, fidelidade e confiança.
FS: Quais são as suas sugestões para as empresas trabalharem com um designer? Como as empresas podem selecionar um bom designer?
OFI: Cuidado com o intervencionismo durante a sua fase de criação! O designer é um animal selvagem. Se escolheu exercer essa profissão, geralmente não foi por facilidade, mas porque é, antes de tudo, uma pessoa fundamentalmente ligada à sua liberdade. Assim, o empreendedor deve, acima de tudo, elaborar um briefing extremamente preciso sobre o que deseja. Isso evitará deceções… E se o contratante já tiver na cabeça o que quer, seria preferível recorrer a um executor em vez de um criador.
Depois, como a empresa pode selecionar o bom designer? É simplesmente uma questão de empatia. Um encontro entre duas entidades. Se a corrente fluir, talvez seja o início de uma idílio e, portanto, de sucessos muito bonitos a caminho.
FS: Quais são os 5 dos seus objetos de design favoritos em casa?
OFI: 1: Um cinzeiro de cristal (Cristallerie Royale de Champagne – Bayel), este bloco de cristal é perfeito. Acho que sempre o vi. Faz parte da minha história familiar, aliás, todos nós temos um exemplar.
2: A cadeira Panton: icónica!
3: A minha coleção de chávenas Illy, onde uma marca, para a sua comunicação, conseguiu desenvolver em torno de um objeto, a sua chávena de café desenhada por Matteo Thun, cujo design é imediatamente reconhecível, colaborações únicas com grandes artistas… O resultado é muito interessante.
4: A minha lâmpada de secretária: modelo Tizio. (Richard Sapper – ed. Artemide).
5: A mini cadeira de Rietveld (coleção de miniaturas do Museu de Design Vitra).
FS: Poderia compartilhar algumas pérolas de sabedoria para os jovens criadores? Quais são suas sugestões para os jovens criadores promissores?
OFI: Com mais de 40 anos, ainda me considero um jovem criador promissor! Dizem frequentemente que eu ainda tenho 17 anos…
Mais a sério, apenas coisas muito clássicas, mas que sempre é bom lembrar: sempre ter um olhar atento, não ceder à facilidade, não se poupar, e se interessar mais pela produção do que por si mesmo.
FS: Do seu ponto de vista, quais são, para você, os aspectos positivos e negativos de ser designer?
OFI: Poder conciliar vida, trabalho e paixão é garantir a própria liberdade. E esta é essencial para mim. Ao mesmo tempo, escolher ser artista ou designer é um sacerdócio. Nunca paramos.
FS: Qual é a sua “regra de ouro” em design?
OFI: Eu permaneço um discípulo de Mies Van der Rohe: “Menos é certo.”
FS: Quais competências são mais importantes para um designer?
OFI: Cultura, mente aberta e criatividade.
FS: Quais ferramentas você usa durante o design? O que há na sua caixa de ferramentas? Como software, aplicativos, equipamentos, livros, fontes de inspiração, etc.?
OFI: Muitos livros, revistas, meus cadernos, minhas anotações, minhas fotografias, objetos, meu computador… Tudo isso contribui para o meu processo criativo.
FS: O design pode ser uma tarefa demorada, como você gerencia seu tempo?
OFI: De fato, se a ideia inicial não exigir muito esforço, algumas etapas requerem muita concentração e trabalho. É ela que dita meu horário. Eu nunca me poupo e não conto as horas, então, em alguns períodos, posso passar dias e noites inteiras. É, no final das contas, bastante estimulante. Eu gosto disso.
FS: Quanto tempo leva para conceber um objeto do início ao fim?
OFI: Isso varia muito. Uma ideia pode parecer muito simples, até simplista, mas sua concepção pode levar muito tempo. Tudo depende da complexidade técnica. O tempo não determina o valor do objeto.
FS: Qual é a pergunta mais frequentemente feita a você, como designer?
OFI: Muitas vezes, sou solicitado sem as pessoas imaginarem que é uma profissão por direito próprio e que até uma ideia e um conselho são um trabalho!
FS: Qual foi sua experiência profissional mais importante?
OFI: Eu não faço uma hierarquia. O projeto mais importante para mim é sempre aquele que estou trabalhando no momento.
FS: Qual tipo de trabalho de design você mais gosta e por quê?
OFI: Eu sou curioso sobre tudo. Cada novo projeto é um novo desafio, uma nova aventura.
FS: Quais são seus projetos futuros?
OFI: Os próximos: Estou trabalhando em vários projetos ao mesmo tempo, tanto do ponto de vista puramente artístico quanto no design de objetos. Eu ainda não sei qual emergirá primeiro.
FS: Você trabalha em equipe ou desenvolve seus designs sozinho?
OFI: Eu trabalho sozinho e conto com meus parceiros quando preciso de respostas técnicas.
FS: Como as pessoas podem entrar em contato com você?
OFI: Elas podem me contatar por e-mail: felix.isselin@gmail.com, por telefone +33 (0)6 51 50 33 85.
FS: Há mais alguma coisa que você gostaria de abordar e que não foi mencionada nestas perguntas?
OFI: Gostaria apenas de esclarecer que estou atualmente procurando distribuidores internacionalmente para meus spas…